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Gente assim não

Gente assim não

ISBN: 9789898682925 

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Gente assim… sim!

 

Qualquer cidadão, nalgum momento da sua vida, já exclamou para si próprio ou para os outros, “São todos iguais”, “Quem tem amigos destes não precisa de inimigos”, “O que eles querem é o poleiro; depois, quando se apanham lá…”, “Eles só sabem prometer, mas cumprir… nada!”. São desabafos, direccionados ora para os que detêm o poder, ora para os pares, de igual condição, mas cujo comportamento perturba, irrita, prejudica os outros. Desabafos inconsequentes, impotentes, que nada fazem mudar, nem sequer o pensamento do(s) interlocutor(es).

Ora, o poeta é também um cidadão que desabafa, mas, ao contrário dos outros, cujos desabafos voam com o vento, o poeta tenta lutar contra a vacuidade da oralidade, fixando-os no papel, sob a forma de uma poesia forte e aguerrida, de cariz marcadamente social, denunciadora e acusadora, de dedo em riste apontando os males e seus causadores. Sabedor e nunca esquecido do leito onde dormiu e do leite materno bebido, Manuel Bastos ousa tentar erguer-se acima da condição de anónimo, que à roda da mesa do café ou da família vocifera contra deus e o diabo, dispondo-se a amassar os desabafos e os gritos de revolta em corpo de escrita, com papel de embrulho ainda rude, mas resguardando um interior ainda impoluto e capaz de aspirar à esperança, mesmo quando afirma o contrário.

O país está mal, como sempre esteve, desde as Descobertas. O português ganha pouco, como sempre ganhou. O português é enganado pelos poderosos, como sempre o foi. A vida do cidadão comum é dura, como sempre foi. O poeta quer elevar o seu canto ao alto, para levar o leitor improvável a pensar sobre a condição humana do homem e da mulher que vivem neste rectângulo. Para que recuse aceitar tal como uma inevitabilidade, para que se revolte, para que não se sinta satisfeito na ilusão de um hoje ligeiramente melhor do que o ontem.

Na poesia de Manuel Bastos, podemos rever o que cada um de nós ainda guarda de um tempo em que se sonhou construir uma sociedade nova e melhor, um país diferente e mais justo, um homem mais consciente e livre, resiliente aos engodos de um tempo que passou a nivelar tudo por baixo, a apontar o umbigo e a boca e o sexo de cada um como as únicas ansiedades e aspirações a satisfazer, perante as quais nada mais tem valor.

Para Manuel Bastos, a integridade e a altivez do homem probo ainda são a meta a alcançar. O homem que quer cultivar-se. O homem que se respeita e respeita o outro. O homem que trabalha e por isso merece uma comenda oferecida por todos, a começar por um salário que permita sair da condição rasteira e elevar-se ao estatuto de dono de si mesmo. O homem que aspira ao conhecimento, como bem maior da história humana. Quando Manuel Bastos nos diz que “gente assim… não!”, o que ele quer é dizer-nos que devemos olhar, querer conhecer, apreciar e admirar a outra gente, a gente assim… sim!

Vítor da Rocha

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(Vazio)

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