Posfácio
Um Autor é, antes de mais, o percurso que foi. Constrói-se a si próprio através das sinuosidades da vida, dos amores que acendeu, das palavras que foi semeando, das sombras e da luz de que bebeu. Pelas circunstâncias únicas que vivenciou, toma o pulso do mundo e devolve-o, transformado, mágico, aguerrido ou sereno, pela pena, pela tecla, pela tela. Isaura Machado é epítome desta fusão, deste momento revelado, onde a vida, essa tão simples forma de existência, encontra a complexidade do profundo, do misterioso, daquilo que jamais se extinguirá. Abrimos os lábios e proferimos o que o pensamento já articulou. Isaura pensa e executa pelo pincel a imensidão do que ainda aí vem. Há uma Verdade na sua pintura, uma incandescência transparente que irradia das estradas que percorreu, uma busca do Bem, uma permanente entrega aos outros, pela qual, de resto, pautou toda a sua vida. Isaura Machado era assim. Para os que a conheceram, não é novo que o seu traço revele uma tranquilidade de céu, de fim de luz, de um surdo entardecer. Para os que agora a descobrem, será talvez uma libertação, uma voz de paz e melopeia, aquilo que destas páginas emana. Em todo o caso, é um reencontro o que acontece neste livro: a cor, o azul, funde-se, enfim, no silêncio das palavras de José Efe, que, de forma tão diáfana, soube musicar cada pintura. Os seus poemas são um véu que se deita sobre as telas, acrescentando-lhes o perfume da luminosidade. “Exaltação do Azul” é um livro enquanto objecto, e, por isso só, já valeria a reverência impalpável da Alma. Mas por ser mais do que apenas um livro, um cruzamento do que nunca foi dito com aquilo que será, toma-se de uma humanidade que transborda muito para lá da mera fisicalidade. É um livro sim, mas um daqueles que se abrem como janelas brancas sobre a planície azulada do oceano. Há velas e corpos, barcos e beijos que navegam muito para além de onde o nosso olhar consegue ver. Por isso estas páginas também se ouvem. No rumor distante do marulhar de verão, brotam delas sereias que, como Isaura, nos encherão os dias da pureza infantil que teimamos ser.
Pedro Abrunhosa Porto, 4, Novembro, 2014.
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