Fazendo jus ao título, Maria Antónia de Carvalho Mendes Ribeiro revela, nesta obra, um grande caudal de desassossego, ainda que saiba muito bem onde se situa o saldo da sua vida. Um desassossego que vem de cantos vários; desde logo da ausência (e dos ausentes), que só a memória e a palavra do verso recuperam da penumbra; também o desassossego causado pela vertigem do questionamento sobre o que foi o caminho e o que poderia ter sido, ainda o desassossego por causa do presente, de alguém cuja deambulação poética não lhe tapa os olhos perante a espuma dos dias. Mas há mais, para lá do desassossego – há o sempiterno fascínio pelas coisas simples e belas, a esperança imorredoura na benfazeja aragem da vida, o amor à cidade das neblinas e das pontes, onde os “bês” e os “vês” mudam de sexo a toda a hora, na boca das gentes. Tudo num verso curto, contido, ora florindo em rima ora ficando verso branco, porque a fluidez da palavra, como a da água límpida, é a praia da poetisa.
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