Sôfregos São os Dias
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Trata-se de uma poética que tem tanto de engajamento com o mundo, a vida, os outros quanto da introspecção do diálogo com um amor a um ente querido, dividida entre o cepticismo de uma quase impossibilidade da comunhão com o outro, através do amor… confrontado com o mundo, a realidade… e a ânsia de uma osmose com essa pessoa amada. Porque o sujeito poético, quase rejeitando o egoísmo do amor a dois, opta frequentemente por espalhar o amor por todos, pela cidade, imbuído de um certo cosmopolitismo, de uma segura cosmovisão, amante da multiplicidade e da multiculturalidade, traduzidas numa relação de intertextualidades, chamando à liça outros autores e outros textos, elogiando, acima de tudo, a poesia e os poetas, porque “só no poema se ama inteiro”, valorizando o ato de escrita, mas também uma relação de interdisciplinaridades com outras artes, unindo poesia e pintura, por exemplo, numa simbólica fraternidade.
Poética de muitas faces, nela há também um certo didactismo, apontando caminhos que o sujeito poético considera certos, conjugado com uma dolorosa reflexão sobre a vertigem da existência, marcada pela incongruência da realidade – num lado se morre de guerra, no outro se assiste no sofá –, em busca da coerência, da autenticidade.
Poética construída de coisas comuns, triviais, como estratégia para alcançar a grandeza do sentimento profundo, sem querer parecê-lo; por isso, também uma poética de instante(s), de actualidade(s), numa sucessão de ideias substantivas, quase comezinhas, com as quais o sujeito poético sabe fazer despertar emoções em nós.
Uma poética grande, feita de coisas (aparentemente) simples
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