Uma longa parábola sobre a condição humana, sobre a inevitabilidade do real e a inevitabilidade de sonhar o ideal, por ser o real quase sempre distante do paraíso para que os livros genesíacos nos dizem termos sido concebidos enquanto espécie racional. De facto, a lama, seja sob a responsabilidade individual – os pecadilhos que cada ser humano vai coleccionando -, seja sob a responsabilidade coletiva – esses, sim, ainda maiores e mais graves, parecendo que não está na mão do homem governar-se –, é a matéria predominante na obra chamado bicho homem.
António Machado revolteia a lama, ao mesmo tempo que nos mostra a pureza de um povo que só encontramos na Utopia, de Thomas More, um pouco ainda crente nos grandes valores que deveriam nortear a civilização – mas que, de facto, nunca a nortearam, pois que sob a aparência sempre lá esteve a lama. Ou a chuva ácida, no dizer hodierno, o que tanto faz. E, no fim, encaremos a realidade: “assim se destrói uma aldeia” – uma sociedade, um planeta.
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