Poesia visceral, profunda, agarrada ao corpo, como se tivesse de o perder, fazendo desse mesmo corpo – corpos - o eixo e a métrica do poema, a abertura e a chave de ouro, como se fosse de todos os seus poros e outras partes de onde brotam os poemas, sejam as palavras que questionam o tempo e a vida, sejam as palavras – olhos - que constroem as imagens com que o poeta vê o mundo, sejam, ainda, palavras que dão forma à busca da pessoa amarrada pelo amor que gera amor… palavras que efetivam a medida (se é que há medida) do e no amor…. a medida do afastamento e do regresso… em suma, toda uma anatomia de sentimentos desenhada pelo e em cada poema.
O poeta sabe que, na densidade dos seus afazeres literários, é o verbo o esqueleto que suporta o mundo da humanidade, o húmus da verbalização escrita… sem esse verbo, o universo seria mundo sem norte, fundido num pasto sem poetas e sem poesia. Por isso, há que fazer a anatomia das palavras… pelas vielas estreitas – artérias feitas estradas – e por veias sedentas de literaturas capazes de conduzir o sangue da interpretação ao apaziguamento dum corpo cheio de desassossegos. Anatomia das palavras é, tão-só, isso mesmo… esqueleto literário com vida própria.
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